









Os 30 anos da internet, uma ferramenta que mudou o mundo
Compras online, sites ou o YouTube não existiriam se há três décadas um cientista britânico não tivesse pensado em trocar informações via computador globalmente. A ideia dele transformou o mundo – não apenas para melhor.
"Vague but exciting..." ("Vago, mas excitante...") Essas três palavras, seguidas de reticências, foram escritas à mão num memorando por um jovem funcionário do centro de computação da atual Organização Europeia de Pesquisa Nuclear (CERN), em março de 1989. Até hoje, o título do documento continua não despertando suspeitas: "Gestão da Informação: Uma Proposta".
O nome do jovem cientista era Tim Berners-Lee. O britânico havia sido contratado pelo CERN, nas proximidades de Genebra, como desenvolvedor de software. O comentário escrito à mão era do seu chefe na época, que no início tinha apenas uma vaga ideia do que tinha chegado à sua mesa. Berners-Lee só queria organizar o caos de dados na instituição de pesquisa, mas acabou organizando a comunicação no mundo todo.
A primeira ideia transformou-se num kit de montagem que todos os internautas hoje em dia usam e conhecem: o britânico pensou em coisas como o primeiro navegador, a World Wide Web (rede mundial de computadores, ou internet), a linguagem de programação HTML, e a URL, localizador por meio do qual as páginas da internet podem ser encontradas.
Hoje, Berners-Lee tem 63 anos. Em 2004, a rainha Elisabeth 2ª concedeu-lhe o título de Cavaleiro Comandante da Ordem do Império Britânico por suas realizações no campo da ciência. E o significado de "Sir Tim", como ele mesmo se autodenomina, para o mundo inteiro, ficou claro até para os mais incrédulos ateus da internet o mais tardar na cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos em 27 de julho de 2012, no Estádio de Wembley, em Londres.
Na ocasião, sentado diante de um público mundial, Berners-Lee digitou a frase "Isto é para todos" no teclado, a qual pôde ser lida alguns segundos mais tarde ao redor de todo o estádio.
Foi um momento repleto de emoção, que celebrou o inventor da internet, uma estrela pop com um terno creme, um cientista mundial da computação.
Há um pensamento profundamente democrático por trás da frase "Isto é para todos". E, de fato, a internet ainda desempenha um papel importante quando se trata de democratização em países que precisam dela.
Ódio e hackers
No entanto, desde o surgimento da internet, os ventos mudaram, fazendo com que até o próprio inventor da rede mundial seja obrigado a declarar que há "fatores perturbadores" da ferramenta, como ele diz.
É possível abordar a questão de forma ainda mais sóbria, dizendo que a rede corre o risco de se desfazer: segundo Berners-Lee, os usuários estão expostos a manifestações de ódio, atuação de hackers patrocinadas por Estados e outras maquinações criminosas.
Os modelos de negócio financiados com anúncios destinam-se apenas a clickbait (conteúdo voltado à geração de receita de publicidade online), enquanto notícias falsas, ou fake news, se espalham cada vez mais.
De volta a Genebra por ocasião do 30º aniversário da internet, nesta terça-feira (12/03), Berners-Lee disse, desiludido: "A internet de hoje não é a internet que queremos que seja em todos os aspectos."
Na Alemanha, há alguns anos, o blogueiro e consultor de comunicação Sascha Lobo já
havia apontado que as coisas não poderiam continuar do jeito que estavam.
Atualmente, o especialista em internet Markus Beckedahl, fundador da plataforma Netzpolitik.org (Política da rede, em tradução livre), soa um pouco mais eufórico em seu próprio site: "Cabe a nós configurar essa invenção para o benefício de todos. Por isso, o nosso lema permanece: 'Lute pelos seus direitos digitais!'"
Ou seja: lutar pela proteção de dados e pela privacidade individual. E lutar contra o denuncismo, a propaganda política, a pornografia, as instruções de como fabricar bombas e todas as outras coisas venenosas que circulam na internet atualmente.
"Trinta anos depois: e agora?", escreveu Berners-Lee, no texto de aniversário da internet. Qual o próximo passo? Ficarão decepcionados aqueles que esperam que o cientista apresente receitas rápidas.
No final, segundo o visionário, tudo depende de nós. "Considerando o quanto a internet mudou nos últimos 30 anos, seria alarmista e sem imaginação aceitar que a web como a conhecemos não pode ser mudada para melhor nos próximos 30 anos. Se desistirmos agora de construir uma internet melhor, então não foi a web que falhou conosco. Fomos nós que fracassamos com a internet", afirmou.